quarta-feira, 29 de julho de 2009

como se lembrar da sede?
chris marker pergunta
no filme "sans soleil"
talvez a sede só exista no presente
como se esquecer da sede (enquanto se tem sede)?

terça-feira, 28 de julho de 2009

ANA

(cantando)

Acordar, tentar dormir, comer

Esperar, tentar respirar, ouvir

Descansar, soluçar, tremer

Estender, aplainar, cerzir

E agora

Este amor insistente

Por tudo o que em você se move

Tudo o que em você se espalha

Pela ínfima duração do presente

Angélica me deu este caderno no dia 27 de junho de 2009. Estávamos sentados à mesa de uma padaria em São Paulo, bebíamos, comíamos e conversávamos depois de mais de um ano (mais de dois?) sem nos vermos. Nós dois comemos quindins ao final.
Ela me disse que gosta dos cadernos de 24 folhas, porque consegue começá-los e terminá-los. Eles são bons para o trabalho em um projeto só. Ou para fragmentos. E não intimidam. Ela me disse que escolheu um caderno sem pauta para que eu pudesse desenhar.
Estou muito surpreso agora. Parei para pensar na data de hoje para escrever aqui e só então me dei conta de que é 27 de julho. Como com a caderneta que Aline me deu, escrevo neste caderno pela primeira vez exatamente um mês depois de o ter recebido de presente.
Estou num estúdio de edição de som, no primeiro dia de pré-mixagem do som de "O menino japonês". Seguem-se os procedimentos técnicos iniciais, eu apenas observo e ouço. As frases dos diálogos se repetem muitas vezes, muitas vezes. Ou - Rômulo e eu, na tela e nas caixas de som, repetimos muitas vezes as mesmas palavras.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

(início)
Aline.
A primeira palavra aqui.
Aline me deu esta caderneta (fiquei agora em dúvida com a palavra caderneta - como chamar isto) no dia 20 de junho de 2009 em Florianópolis na casa dela e do Diego.
Dias azuis. 18, 19 e 20 de junho.
Aline e Elisa.
Aline tem uma caderneta cuja capa tem uma estampa igual à desta mas com cores diferentes.
Hoje é dia 20 de julho.
Estou no Rio de Janeiro, no primeiro ensaio de "A máquina de abraçar" (Mariana e Marina trabalham com Denise - agora comentam o trabalho com Malu - movimento, gesto, mãos, tempo).
Por que hoje estas primeiras palavras aqui?
O chão coberto de linóleo preto, as paredes pretas, cortinas pretas, cortina vermelha ao fundo. Atrizes, diretora, preparadora corporal, assistente de direção. Uma caixa preta. Um ensaio. O impulso de escrever (que vem de longe, de outros ensaios, da sala preta, de me sentar no chão e observar, ouvir).
E é dia 20 de julho, só me dei conta ao escrever aqui - um mês.
(hoje, dia 23, cheguei a São Paulo e uma carta enviada no dia 20 me esperava)

terça-feira, 14 de julho de 2009

PEDRO

Tá. E se a gente não se encontrar nunca mais a gente fica aqui vagando pelo parque até morrer.

TERESA

(sorrindo)

Não, até depois, junto com os espíritos. Ou os zumbis. Não sei quem habita essas árvores.

Pedro começa a andar. A cada passo, chuta de leve as folhas que estão sobre o chão, espalhando-as um pouco.

TERESA

Ah, Pedro, esqueci...

PEDRO

(sem olhar para trás)

Agora eu já comecei a andar, a gente só pode se falar de novo quando se encontrar por acaso no fim, não é isso?

Pedro anda mais um pouco. Olha os próprios pés enquanto espalha as folhas. Depois olha para trás.

Teresa não está mais lá.