Vi, na semana passada, "O homem urso", documentário do Herzog. Me lembrei deste poema.
As mágicas luzes da ribalta
Um urso de vestido branco e véu rendado corre pela beirada do picadeiro
com uma das patas dada a um urso que veste fraque e gravata
não é um casamento
os dois se mantêm cambaleantes sobre as patas traseiras
e usam cada um uma focinheira que não os deixa abrir a boca
talvez alguém na platéia solte uma gargalhada
sem que eles saibam por quê
enquanto seguem correndo ao som da fanfarra
os olhos de um e do outro perdidos
Quem preparou este número
teve sucesso, sem dúvida:
são agora figuras humanas
não por causa da gravata
tampouco pelo vestido
quarta-feira, 28 de junho de 2006
quarta-feira, 14 de junho de 2006
Trecho de "Uma faca só lâmina", de João Cabral de Melo Neto:
assim como uma faca
que sem bolso ou bainha
se transformasse em parte
de vossa anatomia;
qual uma faca íntima
ou faca de uso interno,
habitando num corpo
como o próprio esqueleto
de um homem que o tivesse,
e sempre, doloroso,
de homem que se ferisse
contra seus próprios ossos.
Seja bala, relógio,
ou a lâmina colérica,
é contudo uma ausência
o que esse homem leva.