terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Três poetas, mulheres, rondam meus dias entre o fim do ano passado e o início deste.
Comprei em novembro um livro com traduções de poemas de Emily Dickinson por Augusto de Campos. Li alguns poemas soltos, e voltei repetidas vezes a este:
In this short Life
That only lasts an hour
How much - how little - is
Within our power
Nesta Vida tão breve
De que nos dão só um gole
Quanto - quão pouco - está
Sob o nosso controle
Na primeira semana de dezembro, em Portugal (onde estive para participar do festival luso-brasileiro de cinema de Santa Maria da Feira com "Areia"), comprei um livro com poemas da austríaca Ingeborg Bachmann traduzidos por Judite Berkemeier e João Barrento. Dois fragmentos não me abandonam.
E que testemunha afinal o teu coração?
Entre ontem e amanhã balança,
silencioso e estranho,
e o seu bater
é já sua queda para fora do tempo.
(do poema "Desprende-te, coração")
Coloca uma palavra
no vale da minha mudez
e planta florestas de ambos os lados,
para que a minha boca
fique toda à sombra.
(do poema "Salmo")
Na semana passada, início de janeiro, de volta a São Paulo, comprei uma edição linda de escritos que Ana Cristina Cesar guardava em uma grande pasta rosa, organizados agora por Viviana Bosi em um livro chamado "antigos e soltos - poemas e prosas da pasta rosa". Passeio pelo livro, pelas anotações reproduzidas em fac-símile, folhas datilografadas, letra de mão, páginas de caderno, rabiscos, correções. O poema que copio aqui está inteiro em uma folha, datilografado, sem nenhuma correção ou comentário. 
Gramas
O coração tem pouca ironia de tardinha
Segredos carnais à flor da pele
poemas descarnados aguardando
A vida recusa transportar-se para outeiros
buracos cavados por doninhas
ervas que florescem
O coração tem pouquíssimo fôlego na piscina
Nos quintais dispara úmido
Nas salas fechadas cuida das buzinas
A vida se encarrega das janelas
mas acaba descendo em correria
Não cabe  Não suporta  Não tem peso
 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Há três dias estou em Florianópolis pela primeira vez.
Ontem escrevi na areia, perto da água, Aline Elisa Caetano Felipe
Algumas coisas não perdi, quero encontrar, guardo.
Há um ano, primeiro de janeiro, uma sensação clara se anunciava, insistia em se anunciar, sem nome, mas clara, palpável.
Escrevi aqui uma palavra.
2008 foi um ano impressionante para mim.
Muita coisa que eu esperava, que eu vinha esperando, muitas coisas espalhadas no tempo, se concentraram em um ano só, de uma maneira generosa, delicada. Um ano muito bonito para mim.