terça-feira, 6 de outubro de 2009

filme

Seu rosto grande

de perfil

sobrancelhas

um olho

pálpebra

nariz

o vinco acima dos lábios

boca

um pedaço da orelha

cabelo

testa

todos os dias

assim que ligo o computador em que escrevo agora

no fundo de tela

tomando o retângulo da tela

seu rosto grande

Há ainda outro retângulo

em que estou com você

e nos movemos

respiramos

você me olha enquanto a luz morre em seu rosto

fala

ouve

agora

em São Paulo

três de outubro

meio-dia e dezenove

ontem depois das três da manhã em meu quarto

no Rio de Janeiro quase duas semanas atrás

no Recife daqui a vinte dias

Está sempre entardecendo

e já é noite

agora

em São Paulo

meio-dia e trinta e quatro

você acende a luz

caminha até mim

e nos movemos

respiramos

agora

em São Paulo

treze horas e onze minutos

sinto sua falta

(Primeiro poema que escrevo em quase dois anos. Se parece muito com outros poemas que estão aqui no blog, tem o mesmo verso final de um deles. Num primeiro momento, hesitei em aceitar isso; depois percebi que os poemas conversam, este aqui surgiu assim, querendo retomar algumas coisas. Então, eu o coloco no blog para que se dê a conversa.)