filme
Seu rosto grande
de perfil
sobrancelhas
um olho
pálpebra
nariz
o vinco acima dos lábios
boca
um pedaço da orelha
cabelo
testa
todos os dias
assim que ligo o computador em que escrevo agora
no fundo de tela
tomando o retângulo da tela
seu rosto grande
Há ainda outro retângulo
em que estou com você
e nos movemos
respiramos
você me olha enquanto a luz morre em seu rosto
fala
ouve
agora
em São Paulo
três de outubro
meio-dia e dezenove
ontem depois das três da manhã em meu quarto
no Rio de Janeiro quase duas semanas atrás
no Recife daqui a vinte dias
Está sempre entardecendo
e já é noite
agora
em São Paulo
meio-dia e trinta e quatro
você acende a luz
caminha até mim
e nos movemos
respiramos
agora
em São Paulo
treze horas e onze minutos
sinto sua falta
(Primeiro poema que escrevo em quase dois anos. Se parece muito com outros poemas que estão aqui no blog, tem o mesmo verso final de um deles. Num primeiro momento, hesitei em aceitar isso; depois percebi que os poemas conversam, este aqui surgiu assim, querendo retomar algumas coisas. Então, eu o coloco no blog para que se dê a conversa.)