Eu me sentei no Cinusp depois de vários anos sem ir lá. O filme começou. O som levemente chiado, a projeção um pouco instável. Mas isso não atrapalhava a relação com o que estava se passando ali, naquele momento, me parece. E em muito pouco tempo me invadiu uma sensação antiga e sem nome de quando eu via filmes naquela sala em 1999 - a mesma sensação que vinha de antes, de quando eu via filmes no Cine Metrópolis em Vitória, ou no Cine-Teatro Garoto em Vila Velha, em 94, 95, 96, 97... "O que se move", com sua cópia já um pouco mastigada por projetores de festivais, pareceu para mim, por um instante, um filme mais velho, talvez daqueles anos, talvez anterior, e que eu estava indo ver pela primeira vez. Essa a sensação reencontrada. Que eu não sei como descrever. Ao final da projeção, na conversa com o público - eu ainda sem entender o que estava sentindo - as pessoas foram falando de alguns elementos que perceberam no filme e nos quais eu nunca tinha pensado diretamente para o filme, mas que eu fui reconhecendo claramente como coisas minhas (referências, jeito de olhar, pulsões). Me senti desnudado ali, e foi uma sensação estranha, incômoda e boa. Fiquei pensando nisso quando saí de lá, segui pensando nisso até agora. E há pouco recebi uma mensagem de um rapaz que estava na sessão e que escreveu uma das coisas mais bonitas que eu já recebi, falando sobre como ele ficou incomodado quando viu o filme pela primeira vez numa sessão em outubro do ano passado, mas como o filme seguiu com ele por dias, insistente ("sentia o meu corpo estranho, meu peito apertava e isso me confundia, uma vez que eu não sabia se tudo aquilo era uma sensação boa ou ruim"). E isso foi fazendo ele mudar seu olhar sobre as possibilidades do cinema, segundo suas palavras. Achei tão generoso ele escrever esse relato para mim. É bom dar a sorte de cruzar com essas pessoas. E ir dormir com a cabeça e o peito alimentados e inquietos.
sexta-feira, 5 de abril de 2013
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