sexta-feira, 24 de novembro de 2006

http://www.asescolhasafectivas.blogspot.com/ (Angélica e Marco, amigos grandes, me mencionaram, então fui convidado pelo Aníbal Cristobo a mandar três poemas para lá. Dois deles não estão aqui no blog. E há muita coisa lá para ser lida, começando por Angélica e Marco.)
Eu me sentava e esperava morrer ela disse (roubado de Clara Lobo) Eu me sentava e esperava morrer ela disse o que havia para mim entre acordar e voltar a dormir antes que você começasse a vir visitar-me era sentar-me e esperar morrer você me conta ela não tem força para levantar um prato ou levantar-se sem ajuda o filho antes de sair para o trabalho deixa a comida pronta em algum lugar que ela alcance com facilidade o filho volta à noite com cuidado a deita na cama quase não encontra para ela palavra moram em Boston onde não se fala polonês ou francês ou alemão ou latim não inglês ela não fala os dois livros de história polonesa que escreveu devem estar guardados junto aos outros livros sem uso os olhos não encontram foco a lucidez não vai embora você a vê uma vez por semana leva-a sem nenhuma pressa até o parque senta-se com ela no banco e fala e ouve fazendo uso do francês que também você aprendeu em outro país eu me sentava e esperava e o tempo só existia segundo depois de segundo para um nada um nada oitenta e nove anos não há muito pareciam fazer sentido respirar parecia fazer sentido como agora porque toda quarta-feira eu quase não a conheço você é jovem tão jovem mas toda quarta-feira você fala francês e fala comigo eu me sento e espero por este dia da semana
As fotos aí de baixo, que nunca comentei, são de Biarritz (as três que têm mar) e de Paris (as outras seis). Fui para lá no fim de setembro/início de outubro para participar do Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz com o curta "O diário aberto de R.". Foi uma viagem muito boa. A primeira vez que fui à França, a segunda vez que saí do Brasil (fui a Portugal, em 2004, com o meu curta anterior). Dez dias, contando o tempo de viagem. Bóiam no meio da minha vida em São Paulo. Não porque sejam melhores que ela. Apenas não consegui ainda misturar as coisas, trazer para cá sensações importantes da viagem que, espero, estão guardadas em algum lugar.