terça-feira, 3 de julho de 2007

(do bloco de anotações, 2 de julho) Na padaria, o pai e a filha sentados numa mesa, um de frente para o outro, tomando café da manhã. Ela tem uns onze anos, acho. O pai tem um caderno. Abre-o e mostra desenhos para a filha. Vejo pedaços dos desenhos, parecem muito bons. Num deles, um garçom segura uma bandeja entre mesas cheias de gente. A menina olha os desenhos com muita atenção, muito interessada. Ri. Faz comentários curtos que não escuto bem. O pai também faz comentários. Tenho a impressão, sem nenhum motivo claro, de que os dois não devem morar juntos. Nem sei se são pai e filha, apenas assumi isso. O homem começa um desenho novo. Ela olha para o caderno. Seus olhos se demoram nas coisas. Ele atende o celular, continua desenhando enquanto fala. Apoiada na mesa, ela olha o caderno, muito atenta ao desenho que vai se formando, ou à maneira como ele move a mão enquanto faz os traços. Sorri, às vezes. Ele desliga o celular. Muda um pouco de posição, vejo que o que está desenhando é ela apoiada na mesa, com uma cara um pouco tristonha, uma xícara na frente e um balãozinho de pensamento vazio. Acho que ela não está tristonha exatamente. Está com o pensamento perdido em algo que o desenho não explicita. Ele termina o desenho, levanta o caderno para exibi-lo a ela, como fizera com os desenhos anteriores que já estavam prontos. Ela sorri lindamente. (Um pouco mais tarde, ouço uma mulher dizendo "Vocês devem estar morrendo de saudade de mim". Olho e vejo que ela dá um beijo na menina, depois no homem e se senta com eles.)