e um século
Recortado pela janela
do apartamento
que bóia iluminado
no centro do quadro
da cidade
vista daqui deste quarto
no início da noite de domingo
aquele homem passa roupa
com empenho
Roupa para toda a semana
penso
e observo os movimentos dele
rápidos
repetidos
enquanto escuto você falar
enquanto falo
enquanto este quarto escurece
e me espalho devagar
por esta facilidade nova:
uma conversa
que corre como o ferro sobre a roupa
como os carros na rua
como a corrente elétrica pelos fios
das lâmpadas pequenas que piscam
penduradas na árvore de natal da sala
daquele outro apartamento
vizinho ao do homem que sem camisa
nesta noite quente
17 de dezembro de 2006
em São Paulo
passa roupa
e habita o presente
4 Comments:
então, não sou de são paulo. tampouco estive aí nesses dias. (vou algumas vezes por ano, especialmente por outubro quando da mostra) na internet em nenhum lugar existem teus filmes? portacurtas, youtube, etc..
e temos conhecidos em comum, como a vanessa e o giovani, quem sabe eles possam me passar. se for trabalho demais, não se preocupe.
e quanto à poesia.. eu realmente me impressiono com a maneira que escreves, releio, não posso acreditar. as pausas, os finais rascantes, a falsa simplicidade do mundo, e como são tão soltos e tão precisos..
parece que descreves às vezes cenas de filme, mas ao mesmo tempo não remetem a sensação de ler um filme.. elas têm uma independência poética, são impressionantes pela escolha das palavras e como estão dispostas e as pausas, não sei como explicar bem. trazem sensações visuais mas são muito mais. talvez seja o que mais gosto.
fico pensando como serão os filmes, que escolhas fazes, etc. muito curiosa, fico.
E eu ia justamente perguntar, hoje mesmo, ou ontem, onde você escondia um poema novo.
gosto das pontuações .
Caetano,percebo mais uma vez, tem o dom de pegar a palavra nua, crua,pura -sem vestí-la, sem ornamentá-la, sem fantasiá-la com os artifícios, miçangas, recursos que se costuma usar na alfaiataria poética- e fazer, mesmo assim, com ela, palavra nua, uma poesia pronta para, se for convidada, se apresentar em qualquer ambiente literário. Bela e sóbria, como convém, a sua poesia.
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